#18 – Bullying

18

 

Recentemente conversamos sobre os graves problemas vivenciados no meio familiar e social em decorrência da violência doméstica. Logo depois me deparei questionando se chegará o dia em que não mais será necessária a interferência da lei para determinar que as pessoas se respeitem. Claro, ao acordar deste sonho, fui indagada se esta seria uma utopia realizável. Não sei responder, mas posso afirmar que a desejo.

Agora, direciono o mesmo olhar de preocupação para o nosso jovem, criança ou adolescente, que sofre atos de violência física ou psicológica, intencional e repetidamente praticados por um ou mais colegas, fato que, por incrível que pareça, tem como principal palco o ambiente escolar. Não falo de brincadeiras inocentes, mas sim de atos imbuídos de uma certa maldade gratuita, um rancor injustificado ou até mesmo uma intolerância generalizada de todo incompatíveis com os valores que proclamamos (especialmente o da dignidade da pessoa humana). Referidos atos geram sofrimento e angústia que se amplificam com o tempo e se agravam com a intensidade com que gradativamente passam a ser reiterados. O que é mais difícil de conceber é que são praticados por aqueles que, em tese, seriam ou deveriam ser colegas, companheiros do mesmo tempo e da mesma estrada, com quem as vítimas compartilham o mesmo ambiente que deveria ser de aprendizado. E mais, não há como vislumbrar qualquer traço de desigualdade nesta relação estabelecida entre colegas como se fosse de poder, quando deveria ser de respeito mútuo.

Não há dúvida de que somos todos diferentes (uns mais altos e outros mais baixos, etc), o que decorre da nossa própria natureza e identidade, porém ninguém é melhor e nem pior que ninguém.

Bem, nós já sabemos que este fato ocorre nos mais diferentes ambientes (escolar, até mesmo profissional e inclusive familiar), alcançando todas as classes sociais, indistintamente. Contudo, muitas vezes não é percebido até mesmo em razão do silêncio praticado pela própria vítima que, por vergonha e constrangimento, de regra sonega o seu conhecimento até mesmo aos pais ou pessoas mais próximas, preferindo isolar-se.

Pergunto-me: se sabemos que isso acontece, o que temos feito para evitar, para mudar o curso desta história? Justamente o trecho da história de vida de jovens, filhos desta sociedade, que deveria ser um dos mais belos e construtivos, já que é na infância e juventude que construímos a base que servirá de fundamento para a fase adulta.

Reconhecendo não somente a ocorrência deste fato, mas também nossa responsabilidade, é que em 06 de novembro de 2015 foi promulgada a Lei n. 13.185 que instituiu o programa de combate à intimidação sistemática (conhecida como bullying), com vigência prevista para o próximo mês de fevereiro de 2016 (quando, não por coincidência, ocorrerá o regresso ao ambiente escolar).

Vale lembrar que tudo isso pode ocorrer também virtualmente, sempre que a internet for utilizada como meio de criar constrangimento psicossocial, o que normalmente envolve comentários depreciativos, adulteração de fotos ou de dados pessoas com tal intento.

Dentre os objetivos do programa referido, há um em especial para o qual cada um de nós muito pode contribuir, a saber: promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos de uma cultura de paz e tolerância mútua.

Até quando vamos falar em violência, física ou psicológica? Até quando vamos testemunhar vítimas suportando a dor e a angústia decorrentes da falta de respeito? Ou melhor, refazendo a pergunta, a partir de quando vamos falar mais em respeito e praticar esse legado a partir do nosso próprio exemplo? Somente assim conseguiremos promover, concretamente, uma cultura de paz e tolerância mútua.

Lembremos: toda e qualquer cultura que se pretenda edificar deve começar com nosso próprio posicionamento interno, a partir do que se refletirá em nossos pensamentos e ações. Se assim for, o desencadeamento se dará quase que automaticamente, numa simples via reflexiva em prol das pessoas com as quais nos relacionamos mais proximamente, a começar pelas que mais amamos, as quais, por certo, farão o mesmo. Se assim for, é possível acreditar que aquela utopia sobre a qual falei antes possa encontrar as condições necessárias para se concretizar, senão nesta, quem sabe nas próximas gerações.

Programa exibido em 04 de dezembro de 2015

Sobre quiteriaperes

Não há comentários

Seja o primeiro a comentar!

Deixe uma resposta

  • (ainda não está publicado)