#15 – Adoção

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Falar de adoção é falar de amor.

Sem perceber, adotamos e somos adotados o tempo todo. Não é necessário vínculo biológico para que outra pessoa nos ame como somos, nos ajude, nos oriente e nos ampare. Estas “pessoas do bem” que encontramos em nossas vidas, muitas vezes, chamamos de amigo. Chegamos a dizer que amigo é o parente que escolhemos ter. Poderia ser um professor, um colaborador, um chefe, um mentor.

Mas, quem disse que para amar, precisamos categorizar? Amar não exige mais nada senão a recíproca emoção da entrega e do recebimento, descompromissamente.

Acredito que muitos concordam com isso. Todavia, se concordamos com isso, então não entendo porque uma certa conta, muito simples, não fecha.

De um lado, há muitas pessoas aguardando ansiosamente uma criança. De outro, há muitas crianças aguardando ansiosamente uma família. Ambas a procura dessa tal felicidade que sentimos quando pronunciamos a palavra “família”. O mais incrível é que há muito mais pessoas inscritas procurando uma criança do que crianças aguardando uma família.

Pois bem. Este paradoxo tem o poder de nos impactar e, quem sabe assim, permitir que reflitamos sobre nossa própria conduta. Digo isso porque, de regra, quando se fala em adoção, a primeira ideia veiculada no meio social é a demora e a segunda é a burocracia. Como se os problemas que vivêssemos decorressem somente da falta de agilidade do Poder Judiciário ou das excessivas exigências formuladas pela lei. Asseguro que não é correta esta premissa.

Afinal, adotar uma criança requer um número de documentos bem inferior ao exigido pelos bancos quando contratamos um financiamento (e, de regra, ninguém reclama disso).

Além disso, as exigências feitas pela lei tem o único propósito de viabilizar a maior chance possível de sucesso nesta aproximação de vidas, a do adotado e a dos adotantes. Isso porque, a partir do momento que se encontram, nunca mais serão as mesmas.

Então, fica a orientação para que sejam respeitadas as exigências legais no processo de adoção, o qual é um caminho de muitos passos (aliás, assim também é com a gravidez). Ambos exigem uma espera, e ela tem uma importante razão de ser. É o tempo da preparação, da difusão do amor (a partir do nosso âmago), para depois se converter em atos de acolhimento, de orientação, de cuidado, pois (todos sabemos que) a tarefa de ser pai e mãe pressupõe as maiores e melhores virtudes que o ser humano pode ter: especialmente a do bom caráter, da paciência e da abnegação.

Se você conhece alguma família que está inscrita no cadastro ou está se preparando para se cadastrar como interessada em adotar, cumprimente-a pelo amor que motivou sua iniciativa, afinal ela também está grávida. O filho chegará! Quando? Não sabemos exatamente.

O que sabemos é que, enquanto isso, tal espera é compartilhada por crianças que, a cada aniversário (a cada velinha que apagam), sofrem mais por verem se distanciar o sonho de ter uma família, uma casa para chamar de lar, alguém para chamar de mãe e de pai. Afinal, quanto maior for a criança, menor será a chance de integrar uma família. Isso só ocorre por causa das nossas exigências.

Então, pergunto: quem está fazendo as mais difíceis exigências? Será o Estado, representado pelo Poder Judiciário, quando se acautela tentando conhecer as famílias de modo a assegurar a perspectiva de êxito da futura adoção? Ou, seríamos nós mesmos, cidadãos, ao tentarmos desenhar o protótipo do filho que queremos ter, a ponto de excluir aquele que, a nosso ver, não preencheu o requisito “idade “no momento em nossos caminhos se encontraram?

Programa exibido em 13 de novembro de 2015

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