#16 – Violência doméstica

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Mulher. És a metade da população e mãe da outra metade. Esta frase, por si só, mostra a dimensão do papel da mulher na nossa vida. Na minha e na sua. Nisso, ao que parece, todos acreditamos.

Difícil mesmo é acreditar que o Brasil seja um dos países onde há maior índice de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Muitas são as histórias de dor, em que vidas são marcadas por ameaças, ofensas e até mesmo agressões físicas.

Estas mulheres gritam por amor, por compreensão e por respeito. Gritam por dignidade. Todavia, nem sempre são ouvidas e seus brados, não raras vezes, acabam sufocados pela indiferença que, de regra, se confunde com o silêncio ou com a inércia de quem poderia ajudar.

Isso, por certo, ocorre em lares não muito distantes de nós, talvez mais próximos que imaginamos. Esta semana mesmo, senti um aperto no coração ao ouvir uma notícia na rádio sobre uma agressão física grave em que a vítima mulher foi ferida com várias facadas e o agressor depois tirou a própria vida. Será que, antes deste triste episódio, ela não havia pedido auxílio antes? Será que foi ouvida? Como será que se sentiu? Como está agora?

Histórias como esta se repetem a todo momento. Aliás, foi uma história como esta, vivida por uma mulher chamada MARIA DA PENHA MAIA FERNANDES, que resultou na aprovação da lei que levou seu nome e que tem por propósito proteger a mulher contra atos de violência doméstica e familiar. Trata-se da Lei n. 11.340, de 2006. Uma lei que logo completará 10(dez) anos, sim, eu disse 10(dez) anos, sem que muitas mulheres tenham se dado conta da promessa de proteção nela abrigada, daí porque continuam sofrendo caladas e achando que “é assim mesmo”.

O fato é que o enfrentamento à violência contra a mulher constitui uma luta que deve ser contínua e exige a participação de todos, do Estado, da sociedade e da família. Não podemos esquecer que é na família que normalmente tem início os conflitos que acabam se agravando tanto a ponto de se transformar em atos de violência.

Sinto muito, mas para mim é impensável que promessas de amor se transformem em ameaças, em ofensas e até agressões. Impensável que aquela mulher um dia tão amada, no outro reclame apenas por respeito à sua dignidade. Mais impensável ainda é que esta mulher, numa situação de violência doméstica ou familiar, não saiba como ou a quem pedir ajuda e que nem sempre tenha sido prontamente socorrida e protegida. Realmente, impensável.

Bem, prefiro pensar diferente, deslocando meu olhar para o horizonte onde habita a esperança. Prefiro pensar que, senão esta, mas quem sabe as próximas gerações, compreendam o sentido do respeito com que devem ser tratadas as pessoas, homens ou mulheres, indistinta e reciprocamente. Prefiro pensar que, se amor por alguma razão evaporar, o casal saberá preservar a dignidade de cada um, permitindo assim sigam seu caminho em busca da própria felicidade, sem que isso faça o outro sofrer. Prefiro pensar que, se algum ato de violência doméstica ou familiar afligir alguma mulher, qualquer um de nós saberá como agir para protegê-la (lembrando que em casos tais é para o número 180 que devemos ligar). Prefiro sobretudo acreditar que após o grito não haverá mais o silêncio ou a inércia, mas sim uma mão estendida. O silêncio, todos sabemos, potencialmente permitirá novos atos de violência. A mão estendida não. Ela será o amparo necessário para que as medidas de proteção sejam tomadas, o que será feito pelo Estado na forma da Lei n 11.340, de 2006 e poderá consistir no afastamento do agressor do lar, no abrigamento da mulher e filhos em local adequado e até mesmo na prisão do agressor, se necessário.

Falo de um mundo real não somente quando falo de violência (e as estatísticas provam isso claramente), mas também quando falo de um sistema de proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar, porque ele efetivamente existe. Se não estamos satisfeitos com este quadro, depende de nós aperfeiçoá-lo. Como? De um lado, ajudando a implementar o sistema de proteção legalmente previsto e reclamando das instituições maior efetividade no cumprimento das promessas feitas pela lei. De outro, talvez o mais importante, disseminando a cultura da paz especialmente por meio das nossas próprias palavras e atitudes, para que sirvam de exemplo para a geração das crianças que serão os homens e mulheres do futuro justamente para que escrevam uma história diferente em que, ao invés de estatísticas de agressões e de morte, tenhamos apenas relatos de vida, com as emoções que lhe são próprias, algumas boas outras nem tanto, mas ainda assim que sejam verdadeiros relatos de vida, onde cada um seja o protagonista da sua.

Programa exibido em 20 de novembro de 2015

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