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O Brasil vive um momento muito especial em sua história. Um momento em que o cidadão parece ter despertado a inquietação diante do cenário que se descortina diante dos seus olhos. Esta inquietação, se pensarmos bem, nasceu conosco, tanto que a expressávamos bem mais quando crianças. Não podíamos ver uma pessoa dormindo na calçada, nem uma criança passando necessidades.

Crescemos e, infelizmente, nos imunizamos destes focos de dor que se irradiam dos noticiários. Na verdade, não só deles, emanam também da própria realidade que nos cerca, por exemplo, quando nossos filhos não dispõe de vagas nas creches, quando o sistema público de saúde não nos garante os exames e tratamentos necessários à nossa saúde, quando o transporte coletivo repentinamente deixa de circular e nos deixa aguardando nos pontos de ônibus, para não citar tantos outros exemplos.

São exemplos de ofensa aos direitos assegurados pela lei. Neste momento em que as pessoas vão às ruas mostrar que a inquietação se transformou em inconformismo, seja quanto à corrupção, seja quanto à falta de transparência e de responsabilidade social, quero fazer uma simples, mas importante, reflexão que conecta tudo o que está acontecendo ao primeiro artigo da mais importante lei que nos rege: a Constituição Federal. Segundo dispõe, a República Federativa do Brasil se constitui num Estado Democrático de Direito e tem por fundamentos os seguintes: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. E, quando já pensava ter dito quase tudo, o mesmo artigo fez questão de apontar em seu Parágrafo Único a norma que reconheceu a vontade do cidadão como a mais legítima fonte de poder, tendo proclamado: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Tudo o que desejamos que os “termos da Constituição” deixem de se restringir a uma folha de papel e passem a habitar as ruas, os postos de saúde, as escolas. Apenas assim aprenderemos o verdadeiro sentido da dignidade da pessoa humana, pois ela é a personificação do cidadão. Talvez seja isso que falte ao cidadão: despertar ainda mais sua essência e deixar-se surpreender pelo poder que a humanização das suas atitudes pode alcançar.

Programa exibido em 21 de agosto de 2015

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